Na absoluta maioria das vezes esses
deslocamentos eram contra a vontade e os indígenas não ficavam
muito motivados em abandonar suas localidades para trabalhar segundo os
hábitos e as finalidades dos portugueses, muito menos em trabalhos
forçados. Também havia resistência em trocar sua fé
pela dos cristãos, pregada principalmente pelos religiosos da Companhia
de Jesus.
Tudo isso propiciava o uso da intimidação
violenta e a resposta também violenta dos indígenas. Numa
área que envolvia localidades onde hoje ficam as cidades de Manaus
e de Manacapuru, no Amazonas, ficavam os índios manaós(Mãe dos Deuses), um
grupo aruaque. Com excepcional capacidade de liderança, Ajuricaba
conseguiu congregar diversas tribos locais, assaltando aquelas sobre domínio
dos portugueses. Organizou um sistema de vigilância que dificultava
o deslocamento dos portugueses pelos rios e lagos. A área dos conflitos
ia do baixo Rio Negro ao Rio Branco.
O Governo do Grão-Pará,
subordinado diretamente a Lisboa, era sediado em Belém e a Capitania
do Rio Negro ficava sob sua jurisdição. As enormes distâncias
entre essas localidades e o centralismo da administração
de Lisboa dificultava respostas rápidas a Ajuricaba, que soube explorar
essa deficiência.
Os conflitos prolongaram-se de 1723 a
1727. Com exceção de Manaus, sob o poder de uma guarnição
portuguesa, toda a vizinhança era governada pelo tuxaua. Mas finalmente
Belém consegue organizar uma grande investida contra Ajuricaba,
liderada por Belchior Mendes de Morais. Segundo Aguinaldo N. Figueiredo,
houve "300 malocas incendiadas, 15.000 índios chacinados, incluindo
velhos, mulheres e crianças, além da morte duvidosa do famoso
chefe dos Manaó e dos principais das tribos aliadas a ele" (História
geral do Amazonas, p. 41).
Sobre a captura de Ajuricaba, escreveu
Arthur C. F. Reis, "A prisão foi efetuada facilmente? A parte oficial
guarda silêncio nesse particular. A lenda informa que houve choque
violento. De parte a parte, muito heroísmo. Os portugueses a certa
altura, depois de batidos em quatro investidas, já principiavam
a desanimar, quando alguns soldados, completando o cerco atacaram Ajuricaba
pela retaguarda, conseguindo vencê-lo.
Adianta a lenda que, nessa ocasião,
Ajuricaba, perdendo o filho, tão bravo quanto ele, o jovem Cucunaça,
lança-se entre os inimigos infringindo-lhes várias perdas,
sendo afinal preso e posto a ferro. Transportado para Belém, depois
de procedida nova devassa, onde se amontoaram várias provas para
o libelo acusatório ao grande guerreiro, em caminho, antes de chegar
à embocadura do Rio Negro, tentou libertar-se e aos companheiros.
Sublevou, mesmo em grilhões,
a gentilidade das embarcações, ameaçando seriamente
a tropa de Paes do Amaral e Belchior. Dominado o levante, depois de muito
sangue vertido, para não sujeitar-se às humilhações
do inimigo ufano da vitória, Ajuricaba lançou-se com outro
principal às águas do oceano fluvial que tanto amava, perecendo
afogado, para grande satisfação dos conquistadores, livres
de vez das preocupações de tê-lo sob a mais rigorosa
vigilância até Belém, confessou o governador Maia da
Gama" (História do Amazonas, p. 82).
Além de Ajuricaba, foram
enviados para Belém mais de dois mil indígenas para serem
vendidos como escravos. Ribeiro de Sampaio afirmou que Ajuricaba teria
ligações com os holandeses, o que foi negado por Joaquim
Nabuco. Von Martius teria encontrado índios Ere-Manaó em
1819 no alto Rio Negro; nunca mais foram avistados. Os nascidos em Manaus
adotam a forma indígena manauara para identificarem sua naturalidade.
Extraido do site:
http://www.gentedanossaterra.com.br/ajuricaba.html
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